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A grande maioria dos projetos de urbanização, se não todos, não saem conforme o planejado. Segundo o TCU, em 2018 20% das obras do PAC estavam paralisadas em todo país, porém o fenômeno das obras paradas não é novidade para os brasileiros, tampouco o dos “elefantes brancos”, enormes obras abandonadas, com pouca ou nenhuma utilização. As cidades estão repletas de casos de obras inacabadas, mas mesmo obras executadas não saem exatamente como o desenhado nos orçamentos, planilhas e pranchetas. Como então analisar planos e políticas urbanas?
O objetivo do curso é abordar caminhos metodológicos e conceituais para estudar políticas urbanas, práticas dos urbanismos e a produção das cidades brasileiras, desde uma abordagem da sociologia e antropologia urbanas. Nesse curso de dois dias, debateremos os processos de gestão das cidades através do debate da bibliografia dos estudos etnográficos urbanos e da discussão de exemplos de projetos de urbanização.
No primeiro encontro discutiremos quais são os agentes que produzem a cidade, estimulando a ampliação do entendimento dos projetos urbanos para além da ideia de que sejam resultado apenas do “Estado”, ou de apenas do “Mercado”, apresentando abordagens que pensam as cidades como produtos de uma cadeia complexa de relações sociais e que, por sua vez, também desdobram efeitos sociopolíticos múltiplos que transpassam as intenções dos planejadores. Estudos que partem das cidades brasileiras e adentraram em etnografias dos processos de urbanização têm apontado para como os projetos urbanos envolvem relações múltiplas que vão desde gestores políticos, setores da administração, funcionários públicos, empreiteiras, imobiliárias, bancos nacionais e internacionais até consultores, escritórios de arquitetura, empresários, grandes empresas do Norte Global (como petroleiras e setores industriais), redes de conhecimentos, técnicas e tecnologias, organizações multilaterais, fundos de investimento, empresas terceirizadas, prestadores de serviço, trabalhadores das construções, comunidades, movimentos sociais, ONGS, associações de moradores, milícias, grupos policiais e facções do tráfico. Assim, discutiremos metodologias para pensar o urbanismo enquanto práticas sociais múltiplas e interpretar os efeitos dos projetos urbanos.
No segundo encontro abordaremos casos de grandes projetos de urbanização realizados, parcialmente realizados e nunca construídos, analisando seus impactos e usos propondo uma desestabilização das narrativas de sucesso e fracasso. Para compreender as negociações políticas em torno dessas obras, debateremos como trabalhar com documentos (ofícios, editais, relatórios), imagens (propagandas, vídeos institucionais, modelagem de planejamentos, mapas) e representações de um projeto urbano.
Pós-doutoranda e Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), com período sanduíche na Universitat de Barcelona (UB). Possui Mestrado em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) da UERJ e Graduação em Ciências Sociais pela mesma instituição. Foi docente do curso de Especialização em Política e Sociedade do IESP-UERJ turmas 2024 e 2025, e sua tese foi premiada como vencedora do Prêmio de Teses e Dissertações do IESP-UERJ 2024. Trabalha com megaprojetos, renovação urbana, política urbana e metodologias visuais.